Departamento da Faculdade de Medicina da Unicamp pede que autarquização do complexo hospitalar seja retirada da votação
17/12/2025
(Foto: Reprodução) Após protestos, votação sobre autarquização da saúde da Unicamp é suspensa duas vezes
Após a suspensão da votação do plano de autarquização do complexo de saúde da Unicamp no Conselho Universitário (Consu) devido aos protestos que aconteceram nesta terça-feira (16), o departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas da universidade publicou uma nota pedindo a retirada do tema da pauta do Consu, nesta quarta-feira (17).
🔎A autarquização da saúde da Unicamp transformaria hospitais e unidades de saúde da universidade em uma entidade com gestão e orçamento próprios, separada da administração central — saiba mais aqui.
De acordo com a nota, o departamento pede que o debate seja aprofundado com toda a comunidade acadêmica, a fim de evitar que:
Que recursos públicos, construídos com dinheiro público, sejam privatizados;
Que ocorram processos de terceirização e precarização do trabalho;
Que tais fatores comprometam a qualidade dos serviços de saúde;
Queda da qualidade de ensino e pesquisa da universidade.
Acesse a nota completa aqui.
Desde segunda-feira (15), de acordo com o Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp, cerca de 30% dos servidores de saúde estão paralisados por conta da votação do plano pela comunidade acadêmica.
A votação será retomada, em caráter extraordinário, nesta quinta-feira (18), em formato remoto, a partir das 15h, segundo a reitoria.
❌Polêmica: Enquanto a reitoria e parte da comunidade acreditam que a autarquização irá desafogar o orçamento da universidade e atrair investimentos, servidores e parte da comunidade acadêmica afirmam que o plano irá precaizar os trabalhos e a qualidade do atendimento e do ensino — entenda mais abaixo.
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Risco de precarização e perda de qualidade
Ao g1, o chefe do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, Sérgio Roberto de Lucca, reforçou a necessidade de discutir o tema com a comunidade, em vez de acelerar a votação sem ter princípios importantes garantidos. Veja abaixo os pontos elencados por Lucca.
Gestão dos recursos públicos
Segundo o chefe do departamento de Saúde Coletiva, que possui um histórico na fundação e defesa do Sistema Único de Saúde (SUS), a autarquização tira da universidade o poder de gerir os recursos na área da saúde.
"Isso é uma questão de princípio, porque nós entendemos que nós, como universidade pública, um hospital público, devemos brigar para que tenha recursos públicos e que nós podemos fazer a cogestão desses recursos", afirma Lucca.
Um dos princípios do departamento é que o SUS e os hospitais unviersitários devem ter uma gestão pública.
Segundo ele, a gestão de instituições privadas poderia mudar o foco do SUS que é a universalidade do atendimento "para atender todo mundo com a melhor qualidade possível" para a preocupação com o lucro.
Precarização do trabalho e fala de qualidade de ensino
De acordo com Sérgio Roberto de Lucca, a votação não pode ser feita "como uma caixa preta".
"Os quase 4 mil funcionários que são da área de saúde têm uma insegurança com razão. A gente tem medo de precarização, de pejotização, de não ter um plano de carreira, desse gerencialismo que pode vir dinheiro para investimento, mas que deixa descoberto a questão da vida dos servidores, trabalhadores, profissionais de saúde do hospital", questiona o diretor.
Além disso, Lucca afirma que, a depender dos moldes em que os sistema seja implantando, também pode pejudicar o ensino, uma vez que o complexo também atua como hospitais-escola, nos quais os estudantes atuam.
Impactos financeiros e para servidores
Segundo a Unicamp, com a autarquização, cerca de 17% do orçamento — equivalente a R$ 1,1 bilhão — deixaria de ser destinado à saúde. Esses recursos seriam direcionados para expansão acadêmica, criação de novos cursos e infraestrutura.
O plano prevê que a Secretaria de Saúde assuma gradualmente os custos da área. A partir de 2028, o custeio operacional ficaria sob responsabilidade da pasta, e o pagamento integral dos servidores ocorreria a partir de 2031.
O documento afirma que os servidores manteriam benefícios como auxílio-transporte, vale-refeição, auxílio-criança, vale-alimentação e auxílio-saúde, além da possibilidade de participar de processos formativos e de progressão na carreira.
Plano de expansão acadêmica
Na proposta, a universidade sugere que os recursos que seriam liberados com a autarquização da área da saúde sejam investidos em um plano de expansão acadêmica. O orçamento seria direcionado aos seguintes pontos principais:
criação de novos cursos de graduação e pós-graduação, com a abertura de 1.100 novas vagas até 2030
as novas vagas seriam criadas em cursos como Medicina, Inteligência Artificial, Ciência de Dados, Energia, Engenharia Biomédica, Psicologia, Fisioterapia e Direito
contratação de docentes e novos funcionários técnico-administrativos
modernização curricular
infraestrutura dos campi
Unicamp
Reprodução/EPTV
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