Entenda o que levou à desaceleração da economia no segundo trimestre de 2025
02/09/2025
(Foto: Reprodução) PIB cresceu 0,4% no segundo trimestre
O conjunto de todos os bens e serviços produzidos pelo Brasil no segundo semestre de 2025 cresceu 0,4%.
É a compra que vai até o cliente. Cenas cada vez mais comuns nesses tempos em que, para consumir, basta um clique na tela.
“Roupa, sapato... Chegou um conjunto de louças também que eu comprei, bem bonito”, conta a pedagoga Thaís da Silva Pinheiro.
Com o mercado de trabalho ainda aquecido, o consumo dos brasileiros cresceu no segundo trimestre de 2025.
“A gente percebe que o consumo das famílias, embora tenha crescido, já cresceu menos do que no primeiro trimestre. Isso já pode ter ali um efeito dos juros elevados”, diz Juliana Trece, economista FGV Ibre.
O consumo do governo caiu 0,6%. Desaceleração é a marca do PIB do segundo trimestre, que foi de 0,4%, abaixo dos 1,3% nos primeiros três meses de 2025.
“Tem, basicamente, dois grandes componentes que explicam esse resultado. Um, que a gente já esperava, com certeza, que é o efeito da agropecuária, que não iria contribuir positivamente para o PIB nesse trimestre. Mas também tem os efeitos defasados da política monetária. O Banco Central subiu os juros, com isso o crédito fica mais caro, mais restritivo, e reduz, desacelera o crescimento do consumo das famílias”, afirma Silvia Matos, economista FGV Ibre.
O que também ajudou a manter a economia em crescimento foi o setor que mais pesa no cálculo do PIB: o de serviços. E o tipo de serviço que a entregadora Ana Paula oferece acelerou. O carro dela, que antes fazia transporte escolar, agora circula pela cidade lotado de pacotes.
“Eu ganho o dobro do que eu ganhava fazendo transporte”, conta Ana Paula Oliveira.
Entenda o que levou à desaceleração da economia no segundo trimestre de 2025
Reprodução/TV Globo
De centros de distribuição como um no Rio de Janeiro, saem diariamente caixas e pacotes com produtos que o brasileiro compra sem sair de casa, pela internet. E para tudo isso chegar rapidamente até as mãos dos consumidores, tem muita gente trabalhando lá e nas ruas. Como o prazo de entrega conta - e muito -, o transporte dessas mercadorias envolve uma logística com caminhões, vans, carros, motos. Atividade que cresceu no segundo trimestre do ano.
O movimento chegou a todas as regiões do país, levou encomendas, renda e emprego para a indústria e seguiu na direção das lavouras do agronegócio. Só que, pelo caminho, estavam os bloqueios do custo elevado do crédito, com alta da taxa de juros, do preço das matérias-primas, da estagnação da produtividade, da falta de mão de obra qualificada, das incertezas sobre o cenário internacional.
No primeiro trimestre, a agropecuária disparou: 12%. No segundo, teve queda de 0,1%. Faltou soja dessa vez para bater a supersafra dos primeiros três meses do ano. E a indústria saiu da estagnação do primeiro trimestre. Avançou 0,5%, sustentada apenas pelo crescimento das indústrias extrativas. Transformação e construção esfriaram as máquinas. Na lista de 49 países, o Brasil fica na 32ª posição.
O economista Sergio Vale diz que andar mais devagar era o único caminho possível para escapar do descontrole da inflação.
“A gente tem um dilema: eu não quero ter crescimento baixo, mas eu também não quero ter inflação. O que machuca mais a população mais pobre? Certamente a inflação. Então eu, infelizmente, tenho que desacelerar a economia para baixar essa inflação, para machucar menos a população mais pobre. Não tem caminho, não tem alternativa”, afirma Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados.
Chamou a atenção a parada brusca dos investimentos: queda de 2,2%.
"Investimento é aquilo que as empresas colocam dentro das suas companhias para aumentar a produção futura. Então, eu quero aumentar meu parque fabril, eu quero produzir mais qualquer tipo de bem no futuro, eu preciso ampliar a fábrica que eu tenho. O investimento é o primeiro sinal da desaceleração que está vindo, e a gente viu isso acontecer no segundo semestre agora'.
LEIA TAMBÉM
PIB desacelera, mas ainda cresce 0,4% no 2º trimestre, diz IBGE
PIB: os 4 sinais que mostram a perda de ritmo da economia brasileira no 2º trimestre
Ministério da Fazenda diz que desaceleração no ritmo de crescimento do PIB já era esperada no 2º trimestre