O sonho latino-americano de Oscar Niemeyer que ficou abandonado por uma década e agora volta a ganhar vida em Foz do Iguaçu

  • 03/11/2025
(Foto: Reprodução)
Última obra de Oscar Niemeyer é construída em Foz do Iguaçu Projetado pelo arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer, considerado uma das figuras-chave da arquitetura moderna, o campus da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila) caminha para voltar a ganhar vida em Foz do Iguaçu, no oeste do Paraná, depois de ficar 10 anos abandonado. O projeto do campus, intitulado de "Arandu", foi entregue por Niemeyer em 2008 ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que à época estava no segundo mandato. A proposta era de a construção simbolizar a união entre os povos da América Latina por meio da educação em um ambiente multicultural e bilíngue, mas a execução passou por complicações, como aditivos financeiros e auditorias fiscais, o que resultou na paralisação. Segundo Jair Valera, arquiteto responsável pelo escritório Oscar Niemeyer atualmente, a obra reflete o sonho de Niemeyer em promover a integração regional e a educação pública de qualidade entre os povos da América Latina – a Unila tem alunos de 23 países. ✅ Siga o canal do g1 PR no WhatsApp Agora, a obra, que representa um dos últimos projetos do arquiteto, volta a ganhar forma em parceria com o Escritório das Nações Unidas de Serviços para Projetos (Unops), agência da Organização das Nações Unidas (ONU), em conjunto com a Itaipu Binacional e o Ministério da Educação (MEC). O investimento será de R$ 752 milhões, valor que será repassado pela Itaipu. A primeira fase da obra tem previsão de conclusão até 2027. Nesta segunda-feira (3), marcando a retomada das obras, foi iniciado um programa de visitação ao canteiro. Quem quiser fazer um pedido de agendamento de visita precisar acessar o site da Unila. Podem visitar o local até 15 pessoas por grupo. Obra teve início em 2010, com previsão de conclusão em 2015 Unops Leia também: Aventura: Casal vai do PR ao AM de Corcel para entregar carro para comprador Investigação: Instrutor de academia é suspeito de estuprar adolescente em avaliação física Tragédia: Mulher descobre pelas redes que pai morreu e filho a acidente Os impasses na obra Obras do campus Arandu Unops As obras do campus começaram em 2010, mas foram interrompidas em 2014 após divergências com as construtoras responsáveis. Em 2024, o projeto passou por revisão técnica e atualização das plantas de arquitetura e engenharia, incluindo adequações de segurança e acessibilidade. Em 10 de junho deste ano, a ordem de serviço para retomada foi assinada. Segundo o gerente de projetos do Unops, Rafael Esposel, o principal desafio foi avaliar a condição da estrutura após 10 anos de paralisação. “Precisávamos garantir a qualidade da obra e verificar se estava segura para seguir adiante. O resultado foi muito positivo. O prédio foi bem mantido, sem casos de vandalismo ou furto, o que nos trouxe segurança para continuar”, afirmou. A Unops é responsável pela fase 1 da retomada, que inclui a finalização do edifício central, do restaurante universitário, da biblioteca e do bloco de salas de aula. As entregas serão feitas de forma escalonada ao longo dos próximos três anos. A previsão é que o restaurante fique pronto até março de 2026, e o complexo principal, totalmente finalizado, seja entregue até 2027. A segunda fase do projeto ainda não está prevista. Segundo a Unila, a construção está entre as cinco obras prioritárias do MEC, ao lado da reconstrução do Museu Nacional, e integra o Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) na área da educação. Resumo cronológico do projeto: 2008: Oscar Niemeyer entrega o projeto ao presidente Lula 2010: Início das obras 2014: Construção é paralisada 2024: Revisão e atualização dos projetos 2025: Retomada das obras 2026 a 2027: Entregas escalonadas das edificações 2027: Previsão de conclusão e período de garantia Infográfico mostra como deve ficar a obra de Niemeyer Fabio Furtado/RPC Um projeto com assinatura de Niemeyer Oscar Niemeyer em entrevista em 2002 GloboNews Considerado uma obra-monumento, o campus foi um dos últimos projetos desenvolvidos em vida por Oscar Niemeyer, arquiteto e urbanista brasileiro renomado mundialmente. Ele morreu em 2012. Niemeyer planejou um conjunto arquitetônico formado por seis edifícios interligados por passarelas — símbolo da integração entre povos e saberes. O plano inclui o edifício administrativo, biblioteca, anfiteatro, laboratórios de pesquisa, salas de aula e restaurante universitário. Segundo Jair Valera, projetista e arquiteto que trabalhou na equipe de Oscar Niemeyer e atua na obra atualmente, a inspiração de Niemeyer para a obra vem de Darcy Ribeiro, que pensava a universidade como um organismo vivo, com espaços integrados. A universidade foi projetada para permitir a integração entre alunos, docentes e comunidade Unops Ao longo da carreira, Niemeyer projetou cinco universidades, em Brasília, na Argélia, no Rio de Janeiro e em Foz do Iguaçu. No Paraná, foi o responsável pelo projeto do Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, um dos principais cartões-postais da cidade. "Foi essa concepção de Darcy Ribeiro que inspirou Oscar Niemeyer a elaborar esses projetos, e no projeto da Unila essa concepção é até mais importante porque a integração se fará entre países. latinos", diz ele. Museu Oscar Niemeyer MON Mariah Colombo/g1 O projeto "Arandu" tem nome com origem guarani, unindo as palavras “Ara” (tempo, espaço, cosmos) e “Andu” (sentir e ouvir), e significa “sabedoria”. Segundo a Unila, o termo reflete a conexão entre o conhecimento ancestral e o acadêmico. "Essa obra tem todas essas características e formas que se abrem para o entorno, dialogam com a natureza e criam grandes espaços para encontros entre os alunos de diferentes atividades facilitando a integração proposta nesse projeto", diz Valera. Limitação de espaço na Unila Com mais de cinco mil alunos, a Unila enfrenta hoje limitações de espaço. A maioria das aulas e atividades administrativas ocorre em prédios alugados, o que gera custos mensais superiores a R$ 1 milhão, segundo a universidade. Para Dario, a conclusão do Campus Arandu representa um marco na consolidação da universidade. “A falta de um espaço próprio sempre dificultou o desenvolvimento da Unila. Com o novo campus, teremos condições adequadas para ensino, pesquisa e extensão, além de ampliar nossa oferta acadêmica.” O novo campus terá 94 mil metros quadrados de área construída e contará com sistemas mais eficientes de energia e sustentabilidade. De acordo com a Unops, as atualizações técnicas foram realizadas sem alterar o projeto original de Niemeyer. Obra deveria ter sido entregue em 2015 Na programação original, o novo campus da Unila deveria estar em funcionamento desde 2015, com três prédios concluídos. Inicialmente, a obra foi planejada em duas etapas. A primeira previa a construção dos prédios administrativo, de aulas e do restaurante universitário, com investimento estimado em R$ 120 milhões e prazo de dois anos. Essa fase permitiria o início das atividades no local. Após o início das obras, o consórcio responsável pediu um aditivo financeiro alegando aumento no número de pilares e blocos de fundação, além de uma “descoberta geológica inesperada”. “À medida que o projeto avançou, começaram a surgir vários aditivos. São custos imprevistos que nem sempre estão definidos no momento da contratação”, explicou Giuliano Derrosso, pró-reitor de extensão da Unila. A Itaipu Binacional, proprietária do terreno, e a Unila, rejeitaram o pedido. Segundo as instituições, a suposta descoberta geológica não justificava aumento de custos. “Essa série de aditivos chegou a cerca de R$ 264 milhões até o sexto pedido. Paralelamente, o Tribunal de Contas da União realizou auditorias e identificou que o quinto aditivo, de R$ 14 milhões, era excessivo”, afirmou o pró-reitor. Em 2012, o Tribunal de Contas da União (TCU) fez uma auditoria que apontou sobrepreço e planilhas orçamentárias incompletas no contrato. O reajuste foi recusado, os atrasos nas entregas começaram a se acumular e a relação entre o consórcio e o Governo Federal se deteriorou. Entre 2012 e 2014, a Unila aplicou multas por atrasos, que a construtora se recusou a pagar, alegando que os custos extras não estavam cobertos pelo contrato. A crise culminou em junho de 2014, quando as empresas anunciaram que finalizariam apenas partes estruturais e deixariam o canteiro de obras. “Esse impasse gerou o abandono da obra. A empresa deixou o canteiro em junho de 2014, e a Unila teve de rescindir o contrato”, disse Derrosso. Abandono e deterioração A auditoria final apontou que o consórcio deixou o canteiro sem medidas de proteção obrigatórias. Dutos de água e esgoto ficaram expostos. O muro de arrimo do aterro foi abandonado sem conclusão. O bloco de aulas estava com 43% da estrutura erguida. O edifício administrativo, que deveria ter 18 andares, parou com 13 pavimentos construídos. Já os túneis subterrâneos e o restaurante universitário estavam completos, segundo a Unila. Perícias posteriores indicaram que a falta de proteção expôs os alicerces a alagamentos e desgaste pela ação do sol e do vento. A Unila entrou na Justiça contra as empresas e, em 2024, venceu o processo de R$ 44 milhões que as condenou a ressarcir a construção sob alegação de prejuízos em razão de rescisão contratual. “Parte do valor foi depositado em juízo e retornou à União, comprovando que as solicitações das construtoras eram indevidas. O Judiciário confirmou o entendimento da Unila”, explicou um dos representantes da universidade. Após o abandono, a universidade contratou serviços emergenciais para proteger a estrutura e preservar ferragens e fundações. De acordo com a Unops, o valor atual de R$ 752 milhões está sendo repassado de forma gradual pela Itaipu Binacional, mediante comprovação do uso adequado dos recursos. “A Itaipu é rigorosa com os controles financeiros. Os repasses só acontecem após a verificação de que o recurso foi bem utilizado. Esse valor cobre a contratação do consórcio de construtoras, de uma empresa fiscalizadora e da equipe do Unops, que coordena toda a execução da obra”, explicou Ivan Dario. VÍDEOS: Mais assistidos do g1 Paraná Leia mais notícias no g1 Oeste e Sudoeste.

FONTE: https://g1.globo.com/pr/oeste-sudoeste/noticia/2025/11/03/o-sonho-latino-americano-de-oscar-niemeyer-que-ficou-abandonado-por-uma-decada-e-agora-volta-a-ganhar-vida-em-foz-do-iguacu.ghtml


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