PRF vai a júri popular por morte de mulher durante abordagem na BR-040
09/12/2025
(Foto: Reprodução) Mulher morre ao ser baleada em abordagem da PRF no Rio; agente que fez disparo está preso
A Justiça Federal decidiu levar a júri popular o policial rodoviário federal Thiago da Silva de Sá, acusado de fazer os disparos que mataram a estudante de enfermagem Anne Carolinne Nascimento Silva e feriram outra mulher durante uma abordagem na Rodovia Washington Luís, no Rio, em 2023.
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A denúncia foi apresentada pelo procurador Eduardo Benones, chefe do Núcleo de Controle Externo da Atividade Policial do Ministério Público Federal no Rio. Sá vai responder por homicídio qualificado, homicídio qualificado tentado e lesão corporal culposa, todos em concurso formal.
A decisão, assinada pela juíza federal Katia Maria Maia de Oliveira, da 6ª Vara Federal Criminal do RJ, afirma que há “indícios suficientes de autoria” para que o policial seja submetido ao Tribunal do Júri.
Anne Caroline Nascimento Silva, de 23 anos, morreu após ser atingida em abordagem da PRF
Reprodução/Arquivo Pessoal
Ao analisar o caso, a magistrada afirmou que os laudos periciais comprovam que Sá efetuou oito disparos de fuzil, dos quais sete atingiram o carro em que estavam Anne e o marido, e um acertou o veículo onde estava a diarista Cláudia Maria dos Santos, que ficou ferida.
Um dos projéteis atravessou todo o interior do Jeep Renegade e causou o ferimento que matou Anne.
“Considero haver indícios suficientes de autoria, que autorizam o julgamento do réu Thiago da Silva de Sá pelo Tribunal do Júri.”
“A atuação do réu Thiago em efetuar grande quantidade de disparos com arma de fogo de grande poder de destruição contra veículo em movimento não se justifica, revelando a presença do animus necandi, suficiente à submetê‑lo ao julgamento pelo Tribunal do Júri”, dizia um trecho da decisão.
Decisão rejeita tese da defesa
A magistrada também manteve o agravante de dificultar a defesa das vítimas, ressaltando que os disparos foram feitos pela traseira do veículo em movimento, o que configuraria ataque surpresa.
Fotos do carro em que Anne Caroline estava com o marido
Arquivo pessoal
A decisão rejeitou ainda a alegação da defesa de que Sá teria sido influenciado pelo colega Jansen Vinicius Pinheiro Ferreira. Na sentença, a juíza destacou que todos os acusados afirmaram em juízo que a decisão de atirar foi exclusivamente de Sá, então comandante da viatura.
Relembre o caso
Anne Caroline e o marido voltavam de um jantar quando passaram a ser perseguidos por uma equipe da Polícia Rodoviária Federal. Segundo o MPF, antes mesmo que houvesse ordem de parada efetiva, o policial Thiago iniciou os disparos com um fuzil calibre 5,56.
Sete tiros atingiram o Jeep Renegade, um deles atravessou o veículo e feriu Anne, que morreu no dia seguinte no Hospital Estadual Getúlio Vargas.
Anne Caroline Nascimento Silva
Reprodução/TV Globo
O oitavo disparo alcançou um segundo carro, ferindo no peito a diarista Claudia Maria dos Santos, que sobreviveu.
O MPF também afirmou que, após perceberem a gravidade do ferimento, os policiais alteraram a cena do crime, levando o Jeep Renegade para o hospital e depois para uma delegacia que não tinha atribuição sobre o caso.
O procurador Benones descreveu que a conduta afetou a cadeia de custódia e a integridade da investigação.
O caso motivou, em 2025, a demissão de Thiago da Silva de Sá da PRF por decisão do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski.
Outros policiais envolvidos
Além de Thiago da Silva de Sá, também eram réus os agentes Jansen Vinicius Pinheiro Ferreira, Diogo Silva dos Santos e Wagner Leandro Rocha de Souza.
A juíza decidiu:
Não levar a julgamento Jansen Ferreira. Ela rejeitou as acusações de homicídio consumado, homicídio tentado e lesão corporal. Segundo ela, não há indícios de que ele tenha instigado ou induzido Sá a atirar.
Absolver sumariamente os quatro policiais do crime de fraude processual. Para a magistrada, não há comprovação de que a condução do veículo ao hospital ou à delegacia tenha tido o objetivo de manipular provas.
Com isso, apenas Thiago da Silva de Sá irá a júri popular.
A juíza também revogou as medidas cautelares impostas aos outros três policiais — Diogo, Wagner e Jansen — mas manteve as aplicadas a Sá.