Trama golpista: Paulo Gonet lista provas colhidas pela PF que embasaram a denúncia da PGR
02/09/2025
(Foto: Reprodução) No primeiro dia do julgamento, a PGR apresenta provas contra integrantes da trama golpista
Trama golpista: nesta terça-feira (2), o procurador-geral da República, Paulo Gonet, apresentou as provas colhidas pela Polícia Federal. Ele afirmou que o ex-presidente Jair Bolsonaro foi o líder e o principal beneficiário da ação golpista e pediu a condenação de todos os réus.
O procurador-geral da República disse que a denúncia revela, com precisão e riqueza de detalhes, a atuação da organização criminosa entre meados de 2021 e o início de 2023. Paulo Gonet defendeu que é preciso punir criminalmente tentativas de golpe para evitar que elas se repitam.
“Não reprimir criminalmente tentativas dessa ordem – como mostram relatos de fatos aqui e no estrangeiro – recrudesce ímpetos de autoritarismo e põe em risco o modelo de vida civilizada”, afirmou Paulo Gonet, procurador-geral da República.
Paulo Gonet afirmou que o grupo, liderado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, com a participação de figuras-chave do então governo, de integrantes das Forças Armadas e de órgãos de inteligência, planejou, desenvolveu e colocou em prática um plano progressivo e sistemático de ataques às instituições democráticas. Segundo o procurador-geral, os fatos reunidos na denúncia não podem ser analisados de maneira isolada, mas como uma série de eventos que tinham como objetivo impedir a posse de Lula e manter Bolsonaro no poder:
“Os atos que compõem o panorama espantoso e tenebroso da denúncia são fenômenos de atentado com relevância criminal contra as instituições democráticas. Não podem ser tratados como atos de importância menor, como devaneios utópicos anódinos. O que está em julgamento são atos que hão de ser considerados graves, enquanto quisermos manter a vivência de um Estado Democrático de Direito”.
Gonet disse que não é necessária uma ordem com a assinatura do presidente para que se configure o crime de golpe de Estado e que todos os que participaram têm a sua responsabilidade na trama:
“Os fatos de que a denúncia trata nem sempre tiveram os mesmos atores. Mas todos convergiram, dentro do seu espaço de atuação, para o objetivo comum de assegurar a permanência do Presidente da República da época na condução do Estado, mesmo que não vencesse as eleições e mesmo depois de haver efetivamente perdido a preferência dos eleitores em 2022. Para que a tentativa se consolide, não é indispensável que haja ordem assinada pelo Presidente da República para a adoção de medidas explicitamente estranhas à regularidade constitucional. A cooperação entre si dos denunciados para esse objetivo derradeiro, sob a coordenação, inspiração e determinação derradeira do ex-presidente da República denunciado, torna nítida a organização criminosa, no seu significado penal”.
O procurador-geral citou reuniões em que Bolsonaro e o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, teriam apresentado minutas com teor golpista aos comandantes das Forças Armadas, evidenciando, segundo ele, que o golpe já estava em curso. Gonet ressaltou ainda que o comandante da Marinha Almir Garnier concordou com o plano:
“Repare-se bem que a reunião não se deu para que os comandantes tivessem ciência do grave ato, a fim de que a ele resistissem energicamente. Não. Foram convocados para aderirem ao movimento golpista estruturado. Basicamente, fixava-se que o então Presidente da República prosseguiria à frente do governo do país e se impediria a posse e o exercício do cargo pelo candidato que a população escolheu. O comandante da Marinha chegou a assentir ao convite para a intervenção no processo constitucional de sucessão no Executivo. Não é preciso esforço intelectual extraordinário para reconhecer que, quando o Presidente da República e depois o Ministro da Defesa convocam a cúpula militar para apresentar documento de formalização de golpe de Estado, o processo criminoso já está em curso”.
Entre as provas, Gonet também lembrou as ações violentas de apoiadores de Jair Bolsonaro para atrair a adesão das Forças Armadas. Citou o ataque ao prédio da Polícia Federal no dia da diplomação do presidente Lula, a tentativa de atentado a bomba, perto do aeroporto de Brasília e os acampamentos golpistas montados em frente ao Quartel-General do Exército. Uma sequência que culminou nos ataques de 8 de janeiro, se tornando, segundo Gonet, a última opção disponível:
“O momento culminante da balbúrdia urdida se deu em 8 de janeiro de 2023, com a tomada dos prédios que sediam os Poderes, com articulada destruição física do patrimônio público e histórico nacional. A instauração do caos era explicitamente considerada etapa necessária do desenrolar do golpe, para que se atraísse a adesão dos comandantes do Exército e da Aeronáutica”.
Trama golpista: Paulo Gonet lista provas colhidas pela PF que embasaram a denúncia da PGR
Jornal Nacional/ Reprodução
Ainda entre as provas, Gonet citou o plano chamado “Punhal Verde e Amarelo”, que previa o sequestro e assassinato do ministro Alexandre de Moraes e dos eleitos Lula e Geraldo Alckmin. Gonet disse que o plano foi discutido por militares com o general da reserva Walter Braga Netto, candidato a vice na chapa de Bolsonaro:
“O plano ‘Punhal Verde Amarelo’ recebeu esse nome dos próprios réus. Teve a sua existência e autoria reconhecida pelo general Mário Fernandes, embora dizendo, com escasso poder persuasivo, que o elaborara como mero exercício de imaginação. Foi implementado nas suas fases de monitoramento físico do presidente do Tribunal Superior Eleitoral, efetuando-se o traslado de pessoal e armas para Brasília para que fosse consumado, efetuando-se a aproximação física do alvo, suficiente para que os seus desígnios se completassem. Apenas não se consumou porque não aconteceu o ato esperado naquele momento de formalização pública do golpe por decreto do Presidente da República”.
O procurador-geral afirmou que o golpe não aconteceu devido à oposição dos comandantes do Exército na época, o general Marco Antônio Freire Gomes, e da Aeronáutica, o tenente-brigadeiro do ar Carlos Almeida Baptista Junior, em aderir à trama:
“O golpe não se consumou, uma vez que, não obstante tentado, e insistentemente pelos denunciados, não obteve a adesão dos comandantes do Exército e da Aeronáutica. O empenho para cooptá-los ao empreendimento criminoso – e, portanto, para levar o golpe a cabo – assumiu diversas formas, envolvendo ataques virtuais aos militares de alta patente que mantiveram, enfim, as Forças Armadas fiéis à vocação democrática que a Constituição lhes atribuiu”.
Gonet reforçou, em mais de uma ocasião, que a denúncia foi baseada em testemunhos, documentos, planilhas e outros materiais reunidos pela Polícia Federal. Também citou o uso da estrutura do Estado a favor do plano golpista, como as blitz no segundo turno das eleições para presidente nos locais em que Lula teve maior votação, os pronunciamentos de Bolsonaro em 7 de setembro de 2021 e 2022, e a reunião do então presidente com embaixadores:
“A denúncia não se baseou em conjecturas ou suposições frágeis. Os próprios integrantes da organização criminosa fizeram questão de documentar quase todas as fases da empreitada”.
Ao falar sobre o papel de Jair Bolsonaro na trama golpista, o procurador listou diversas acusações sem prova do ex-presidente sobre o processo eleitoral para, segundo Gonet, incitar a ruptura democrática:
“A finalidade era inequívoca: fomentar desconfiança generalizada no processo eleitoral, incitar a militância contra os Poderes constituídos e dispor a população para rechaçar a derrota nas urnas. A apropriação das estruturas, datas cívicas e símbolos estatais em favor dessa narrativa indicam a gravidade do desvio de finalidade. Procurava-se revestir de legitimidade uma trama de ruptura”.
Por fim, Paulo Gonet pediu a condenação de todos os réus:
“O conjunto dos fatos relatados na denúncia e suficientemente provados ao longo do feito, que obedeceu pontualmente aos parâmetros do devido processo legal, leva a Procuradoria-Geral da República a esperar juízo de procedência da acusação deduzida”.
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